segunda-feira, 20 de junho de 2011

Economia e educação

(Artigo do professor OSCAR SANTIAGO RODRIGUES)


1) Resumo

O texto aborda as relações da Economia e Educação na Sociedade Moderna, estabelecendo as relações dos gastos em educação com o investimento humano e o avanço tecnológico, econômico e os problemas sociais e políticos. As mudanças do conceito mais abstrato de capital humano para a sociedade do conhecimento e as peculiaridades da formação politécnica; os progressos técnicos e científicos que levam a uma mudança na formação profissional, trabalhando como base uma nova visão educacional. Finalmente, ressalva a importância das características profissionais na formação intelectual e profissional para o terceiro milênio.

2) Introdução

Poucos assuntos são mais intensamente discutidos do que o papel da Educação na Sociedade Moderna e em particular sua conexão com o propósito econômico. Todas as análises da posição competitiva dos países no mundo econômico focalizam a importância de uma força de trabalho instruída e ocupacionalmente qualificada. O ponto mais enfatizado nas referências é o dos gastos em educação com investimento humano (Teoria do Capital Humano). Os investimentos visam a um maior retorno econômico, e a educação passa a ser um aspecto ou, mais precisamente, um componente da política econômica global. Assim, não se tem dúvida de que a educação serve ao propósito econômico. Entretanto, é necessário observar que muitos setores funcionam com trabalhadores semi-analfabetos, porque têm disposição e disciplina resultantes da fuga da privação econômica. Como conseqüência, muitas indústrias mudaram para novos países industriais onde a força muscular e a tendência submissa são os principais requisitos do processo econômico. Nas nações industriais avançadas, a educação desempenha papel econômico fundamental, pois a economia moderna requer uma força de trabalho bem preparada e adaptável. A sociedade moderna baseada na sociedade do conhecimento não pode aceitar que a educação esteja basicamente a serviço da economia; ela tem um papel político e social maior, uma justificação mais profunda em si mesma.

Ela tem uma relação vital com a paz social e a tranqüilidade e traz esperança e significa uma saída para os estratos sociais e econômicos menos favorecidos. Em uma sociedade moderna e justa, um grau de estratificação social e econômica é inevitável e a eliminação completa de um sistema de classes é quase certamente impossível. A estabilidade política requer, porém, a existência de uma chance reconhecida e eficaz de movimento ascendente para os estamentos menos privilegiados. Caso isso não ocorra, haverá descontentamento social e até a possibilidade de uma revolta interna. O papel da educação é não só permitir as pessoas se autogovernarem inteligentemente, mas também desfrutarem plenamente da própria vida. No modelo passado, baseado na economia agrícola rudimentar, ocorria pouca exigência do Estado, necessitava-se de inteligência pouco sofisticada tanto do governo como dos governados. Hoje, o avanço tecnológico e econômico e as distorções sociais decorrentes, aumentam os problemas enfrentados pelos governos tanto em complexidade como em diversidade. Isso significa a necessidade de melhora da estrutura política com o estabelecimento de uma democracia plena.

A educação faz surgir uma população com a compreensão das tarefas públicas, e também faz com que esta exija ser ouvida, já que os homens e mulheres analfabetos, especialmente em nível de subordinação, são facilmente mantidos em silêncio e sob controle autoritário. No mundo moderno, não existe população bem educada que esteja sujeita a regime despótico ou autoritário; conclui-se, portanto, que a democracia é conseqüência material da educação e do desenvolvimento econômico devendo proporcionar ao indivíduo o engrandecimento e o desfrute da vida, confirmando que é óbvio o papel da educação na sociedade. Toda criança deve ter acesso a uma boa educação primária e secundária, e a sociedade deve exigir isso. Na educação superior, deve haver plena oportunidade de realização, contanto que atenda às aspirações de cada um e à habilidade de cada indivíduo. Portanto, os recursos públicos têm que estar disponíveis e bem alocados para que haja uma redução do processo de exclusão social sendo necessária a ampliação da estrutura pública em nível de formação primária, secundária e técnica.

Lester Thurow, no seu livro O Futuro do Capitalismo, mostra como o fim do comunismo, as mudanças tecnológicas com uma era dominada pela inteligência humana, uma demografia inédita e revolucionária, a globalização da economia e uma era multipolar que desconhece qualquer tipo de dominação econômica, política ou militar, por qualquer nação, estão provocando uma revolução que ameaça destruir o capitalismo como ideologia de orientação para o poder público e, sobretudo para as pessoas físicas individualmente. Thurow afirma que as empresas, para serem bem sucedidas, precisam tirar proveito da capacidade mental das pessoas. Esta capacidade, e não o capital, o equipamento, a mão-de-obra comum ou os recursos naturais é que permite às empresas a necessária vantagem competitiva. Mas isso requer vultosos investimentos em educação, o que a iniciativa privada não faria, ou pelo menos não fez como comprova a história. Assim, o estado tem que se encarregar de criar o capital humano necessário à formação individual e coletiva.

A mudança demográfica mostra as dificuldades existentes, face ao rápido crescimento populacional, com a crescente lacuna na distribuição de salários. Essas distorções não ocorrem apenas entre os grupos de trabalhadores, educados e não educados. Elas agora se manifestam dentro de cada grupo, já que existem operários que ganham bem mais que seus colegas com o mesmo nível educacional dentro do mesmo país. Outro fator relevante são as quedas consecutivas dos salários reais. Ninguém escapa desse dilema, não importa sua idade, o setor em que trabalha, o cargo que ocupa; isso atinge até o nível daqueles que têm pós-graduação.

Outro fator é o aumento populacional maior nos países mais pobres, o que provavelmente elevará o número dos excluídos, que poderão até morrer face às dificuldades de ajudas externas e internas das próprias organizações privadas ou estatais. Acresce a esse fato o envelhecimento da população mundial, o que implicará serviços sociais caros e, por conseguinte um aumento nas funções do governo. Thurow aposta na recuperação do capitalismo e afirma que, para sobreviver, este terá que mudar passando de uma ideologia de consumo para uma ideologia de construção. Logo, a ênfase sobre a gratificação instantânea precisa ser substituída por uma ênfase que vise ao futuro como seu alvo primordial. Com a estagnação do capitalismo a ênfase mudará para uma ideologia inteiramente diferente talvez anticonsumista, talvez fundamentalista ou sacerdotal. Na sua visão, acredita que a nova ideologia não seja uma reedição da ideologia atual, não importa se capitalista ou qualquer outra. Thurow tenta apontar para as possíveis causas da implosão do sistema capitalista, indicando como grande ameaça à perda da ideologia. O estado do Bem Estar Social desenvolvido sobre a Teoria do Capital Humano, ao produzir formas mais avançadas de reprodução da força de trabalho e de direitos sociais mediante fundo público, indica que o caminho não é a regressão em função da crise, mas uma mudança para novas formas sociais que vários autores denominam “socialismo com democracia”.

Os programas de formação, como indica Hobsbawn (1992), mostram um projeto educativo que desenvolve as múltiplas dimensões do humano-educação, sendo, portanto, politécnico. Assim, é possível entender que as mudanças dos conceitos mais abstratos de capital humano para a sociedade do conhecimento expressam a nova forma mediante a qual, ideologicamente, se apreende a crise e as contradições do desenvolvimento capitalista, que necessita de profunda reformulação. O núcleo de formação educacional futura será baseado na formação politécnica direcionada às múltiplas necessidades do ser humano, como alternativa democrática ao neoliberalismo, visando atenuar os processos de exclusão social. Atualmente, os conceitos tomaram uma forma mais qualitativa, como formação para a competitividade, qualificação e formação flexível, abstrata e polivalente, qualidade total, deixando em nível mais operacional a categoria sociedade de conhecimento. Especialmente, desde os anos 60, o papel das economias nacionais tem sido corroído ou mesmo colocado em questão pelas transformações na divisão internacional do trabalho, cujas unidades básicas são organizações de todos os tamanhos multinacionais ou transnacionais e redes de transações econômicas que estão, para fins práticos, fora do controle dos governos e estados. A reorganização econômica política e internacional desenvolve-se conjuntamente com um verdadeiro revolucionamento da base técnica do processo produtivo, resultando em grande parte do financiamento direto do capital privado e indireto pelo fundo público na reprodução da força de trabalho. Os progressos da microeletrônica associada à informatização, à microbiologia e à engenharia genética, e às novas fontes de energia são a base de substituição de uma tecnologia rígida por uma tecnologia flexível no processo produtivo.

Essa mudança qualitativa da base técnica do processo produtivo é classificada na literatura como uma nova revolução tecnológica industrial gerando um impacto crucial sobre o conteúdo do trabalho, a divisão do trabalho e a quantidade de trabalho. Ao mesmo tempo em que se demanda uma elevada qualificação e a capacidade de abstração para os trabalhadores estáveis, em número cada vez mais reduzido, cuja exigência é cada vez mais supervisionar o sistema de máquinas informatizadas e a capacidade de resolver rapidamente problemas para a grande massa de trabalhadores temporários ou excedentes de mão-de-obra a questão de qualificação de escolarização não se coloca como problema de mercado. Assim, na situação atual, busca-se uma nova reestruturação do sistema onde se incluem. reconversão tecnológica, organização empresarial, combinação das forças de trabalho e estruturas financeiras. Acresce a esse fato, que as empresas se deslocam de uma região para a outra buscando as melhores condições de produção. No atual contexto, poderíamos identificar a nova ordem estabelecida com a fase da globalização, da internacionalização, do colapso do socialismo real, da reestruturação econômica e da mudança da base técnica do trabalho.

A partir de 1980, surge uma literatura sobre sociedade pós-industrial, a sociedade de conhecimento e os conceitos ligados ao processo de qualificação e formação humana, qualidade total, trabalho participativo, formação flexível, abstrata e polivalente. Os conceitos de globalização, qualidade total, flexibilidade, integração, trabalho enriquecido, ciclos de controle de qualidade em termos reais concretizam-se em métodos que buscam atingir tempo, espaço, energia, materiais, trabalho vivo, aumento de produtividade, a qualidade dos produtos e, conseqüentemente, o aumento do nível de competitividade e da taxa de lucro. No campo da educação e formação, os novos conceitos que tentam dar conta desta nova materialidade são: formação para a qualidade total, formação abstrata, policognição e qualificação flexível e polivalente. Finalmente as receitas que são apresentadas de acordo com a nova teoria indicam que se espera como característica do profissional para o terceiro milênio o seguinte: flexibilidade, versatilidade, liderança, princípios de moral, orientação global, hora da decisão, comunicação, habilidade de discernir, e equilíbrio físico e emocional.

3) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FRIGOTTO, Gaudêncio. Educação e a Crise do Capitalismo Real. 2. ed. São Paulo: Cortez Editora, 1996.
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PINHO, Carlos Marques. Economia da Educação e Desenvolvimento Econômico. 1. ed. São Paulo: Pioneira, 1970.
STEWART, Thomas A. Capital Intelectual. A Nova Vantagem Competitiva das Empresas. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1998.
THUROW, Lester C. O Futuro do Capitalismo. Como as Forças Econômicas de Hoje Moldam o Mundo de Amanhã. L.ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.
VAIZEI, John. Economia da Educação. São Paulo: Ibrasa, 1968.

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