quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

"A violência nas escolas é uma realidade" - Júnia Paixão

(Publicado no Jornal OTEMPO em 07/12/2010"


"A violência nas escolas contra professores, ao contrário do que dizem as autoridades da educação, não é feita por casos isolados, mas se configura como uma prática comum nos dias de hoje. Vivemos numa situação de constante tensão, pois nossos alunos estão cada dia mais sem limites e sem noção de certo e errado.

Não prego a hierarquia autoritária, mas um mínimo de respeito à autoridade do mestre, dentro da sala de aula, tem que ser cobrada. Se educamos adolescentes e jovens para a vida, como será quando eles tiverem que enfrentar o mundo fora dos muros da escola? Não podemos fazer vista grossa às atrocidades vividas todos os dias pelos educadores, com agressões verbais, porque, na maioria dos casos de violência física, a agressão sofrida é o cume de um processo que já começou há muito tempo.

Infelizmente, somos a parte mais frágil dessa corda. Os alunos têm direitos demais e nem sequer podemos cobrar-lhes seus deveres de estudantes com rigor, pois o insucesso de todos os alunos, mesmo os mais indolentes, recai sobre os ombros do professor. Nossa avaliação de desempenho, tão alardeada pelo governo como meritocracia, está atrelada ao número de alunos evadidos da escola e à quantidade de baixo desempenho dos estudantes, mesmo que tudo tenha sido tentado.

E o mais interessante é que não vemos nenhum movimento do governo em melhorar o atendimento a essa clientela. As escolas não contam com nenhum profissional que possa auxiliar no diagnóstico de problemas sociais, envolvimento com drogas e outros fatores de risco social. Projetos são lançados sem a mínima preocupação com a infraestrutura das escolas, como a escola de tempo integral. Alunos especiais são jogados em instituições sem a menor capacidade de acolhê-los adequadamente.

A violência sofrida por profissionais de educação é o resultado de uma política educacional equivocada e incoerente, que privilegia números, abarrota as escolas de papéis a serem preenchidos, cobra condescendência dos educadores para com os educandos, tira a autonomia das escolas e culpa os professores por todo o mal, inclusive das agressões das quais são vítimas.

O magistério é uma profissão em extinção. Os jovens que vão enfrentar o mercado de trabalho hoje têm um leque de opções muito amplo e muito promissor. Quem vai querer entrar numa escola com vários ideais e passar toda a sua vida profissional brigando pelo mínimo de dignidade?"

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