segunda-feira, 25 de outubro de 2010

POLÍTICA E UNIVERSIDADE

"Três antigos dirigentes da UFMG (capitaneados por seu ex-reitor, professor Ronaldo Pena) utilizaram-se de veículo institucional da universidade ("Boletim" de 18.10) para acintosa campanha em favor da candidata oficial a presidente da República. Causou espécie, com repercussão na imprensa nacional, a forma como se deu o apoio, pois há explícita vedação legal para isso, conforme entendimento de juristas especializados em legislação eleitoral. Abrir espaço para artigos de defensores de outra candidatura - como alguns chegaram a defender - só iria ampliar a violação praticada, democratizando-a perversamente.

Qualquer jornal local certamente acolheria tais manifestações pessoais nas suas páginas de opinião, até por causa da alta posição acadêmica dos autores. Além do mais, um público mais universal estaria sendo brindado, assim, com as avaliações políticas dos referidos e magníficos docentes. A sociedade seria grandemente beneficiada. Ganharia mais elementos de informação no julgamento do governo Lula, não só no tocante às questões orçamentárias educacionais como, também, em outros aspectos infelizmente negligenciados pelos mestres.

Em linguagem sectária, similar à utilizada pela candidatura chapa-branca, argumentam os ex-dirigentes que "o momento é de comparação de dois projetos para o Brasil. De um lado, Dilma Rousseff, representando a continuidade do projeto desenvolvido nos últimos anos, e de outro, José Serra, a oposição a esse projeto". Ouvem-se aí ecos de um totalitarismo tardio, emanados da "teoria dos dois campos" de Jdanov - ideólogo do stalinismo: quem não está comigo está contra mim; quem não é amigo, é inimigo; quem não é socialista, é capitalista e assim sucessivamente. José Dirceu, o chefe da quadrilha do mensalão, assinaria sem tergiversar a espantosa simplificação da realidade contida nesse diagnóstico.

Não consideraram os ilustres professores que uma parcela do eleitorado pode fazer, simplesmente, uma escolha baseada na teoria do mal menor, indissociável do sistema de voto em dois turnos, tal como existe em outros países.

Uma concepção severina da educação - não a que tem como referência a visão do grande poeta João Cabral de Melo Neto, mas aquela inspirada no ex-deputado Severino Cavalcanti, o achacador de lanchonetes - considera o dinheiro como norte a ser seguido, bem como unidade de medida de ações governamentais. Desde que os governantes abram sua vasta cornucópia para suculentas bolsas isentas de imposto de renda, tudo estará bem. Não importa que seus adeptos e acólitos patrocinem, por exemplo, a queima de livros em praça pública (tal como se deu em março do corrente, em São Paulo), numa repetição dos atos dos nazistas, em 1933, às portas de uma universidade alemã. Em nossa universidade severina, bolsos e bolsas recheados falarão mais alto. Valores civilizatórios ficarão severinamente distantes. Vale relembrar o poeta alemão Heine, que assim disse, em 1843: num lugar onde se queimam livros, depois se começa a queimar pessoas."

(Publicado no jornal O TEMPO, de Belo Horizonte, em 23/11/2010)

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