quinta-feira, 25 de março de 2010

"ULTIMI BARBARORUM!!!!!!" - Professor Roberto Romano

(Manifestação do Professor Roberto Romano a propósito das agressões aos advogados de defesa do caso Nardoni, publicada em 24-03-2010).

"A massa que elege salafrários, ladrões do dinheiro publico e, portanto, assassinos (recorde-se que bilhões são desviados das políticas públicas de saúde, segurança, educação, controle do trânsito, da coleta do lixo, das obras super-faturadas, etc, aumentando a mortandade em escala geométrica), a massa, digo, que assiste com enlevo programas pornográficos e idiotizantes, a massa ignara que adora o fedor dos cadáveres e "se emociona" com a morte de inocentes e acusa sem pensar supostos culpados (remenber a Escola de Base, entre muitos outros casos), a massa que só conhece o linchamento e é covarde ao ponto de conviver com narco-traficantes "beneméritos da comunidade", a massa que silencia a morte de dissidentes políticos em Cuba, a massa canalha, não permite a existência do advogado.Boa parte da midia brasileira é fascista, o que se manifesta em especial em casos como o em foco. Daí seu apoio a todos os fascistas, vermelhos ou negros, verdes ou marrons, de qualquer governo.

Estado que não permite defesa é totalitário, corrupto, bandido. Mesmo os que, com provas cabais, são acusados, merecem defesa. Só a massa idiota pode imaginar que um dos seus integrantes, ou ela inteira, será indene de qualquer acusação, justa ou injusta. É a massa que age como matilha ensandecida, incentivada por canalhas que lucram com o espetáculo, é a massa que não aceita nem entende os preceitos fundamentais do Estado de direito. Ela quer sangue.

Recordo quando ocorreu o incêndio do edificio Andraus. Eu tinha naquele prédio familiares que alí trabalhavam. E iria encontrá-los no local. Quando cheguei à Praça da República, fui impedido de continuar a marcha, pela polícia. Fiquei alí, tenso (na época, não existia celular) por nada saber dos meus. De repente, ouço uma voz surda e infernal que repetia: "pula, pula, pula!!!". E risos diabólicos. Os corpos tombavam, para horror dos seres humanos, minoria entre aquela reunião de hienas. Graças a Deus, os parentes escaparam no último instante. Mas vomitei na hora, de pavor e nojo de ser brasileiro, e integrante do nosso suposto genero, onde supostamente existiriam sentimentos e razão.

Desde aquela época, desconfio e fujo de massas. Elas serão as responsáveis, com os sofistas do marketing político (como na Alemanha de Hitler, na URSS de Stalin, etc) pela tirania que se esboça no horizonte pátrio.

O nojo e o desgosto aumentam ao ler notícias como a reproduzida abaixo. As feras que, por incitação irracional, agridem um advogado de defesa, aplaudem, elegem bandidos. E lhes pedem favores.Enfim, hoje não é um bom dia para os seres humanos. É dia de estraçalhamento dos direitos, em favor da vulgaridade canalha.

Spinoza, diante de fatos assim, escreveu um cartaz e saiu pelas ruas da Holanda, desafiando os bichos da massa e os chamando de "ultimi barbarorum".

É o Brasil.

Roberto Romano"

(O Professor Roberto Romando trabalha na UNICAMP onde leciona a disciplina de Ética. É um raro exemplar de dignidade humana nas universidades brasileiras).

Um comentário:

Kátia Oliveira disse...

Meu Caro Machado,

Que texto MARAVILHOSO. Confesso a você que fiquei indignada com o que aconteceu com o advogado. As pessoas fingem não saber que, até para que haja um julgamento e, consequentemente, uma condenação, o criminoso precisa de um advogado.
Também a mim, as multidões assustam, porque delas, jamais podemos saber o que virá.
Quase nada vi sobre a obrigação da preservação da integridade física do advogado, apenas os aplausos ao promotor.
Não que eu negue que o promotor mereça elogios por ter realizado seu trabalho e conseguido seu objetivo, mas que ambos merecem respeito. Afinal, nenhum dos dois estava sendo julgado, ambos estavam trabalhando.
Adorei.
Abração.