segunda-feira, 9 de novembro de 2009

UNIBAN E INCIVILIDADE

O professor Robert C. L. Moffat, do Levin College of Law (University of Florida, Gainesville), escreveu um instigante artigo para discutir a questão da chamada incivilidade: “Incivility as a Barometer of Societal Decay”. A tradução ligeira de pequeno trecho (realizada por meu filho), segue abaixo. Seu enfoque pode nos ajudar a compreender algumas situações que temos vivido no Brasil (como, por exemplo, o caso da expulsão da aluna da UNIBAN ocorrido recentemente).

“O século que findou tem sido caracterizado (nas nações industrializadas), por uma prosperidade enorme e sem precedentes, bem como pelo florescimento do individualismo que essa prosperidade alimenta. No começo do século XX esse panorama preocupava a Emile Durkheim, tendo ele previsto o desmantelamento da sociedade numa anomia, caso a solidariedade, que gera a coesão social, fosse perdida. Ele percebia que a coesão social é baseada numa participação na consciência coletiva, e esta é a moralidade comum que une toda a sociedade. Traduzindo para os termos da nossa discussão, a consciência coletiva significa que a adesão aos laços sociais é refletida na civilidade da sociedade. Ao mesmo tempo, incivilidade é uma indicação de anomia. Indivíduos bem-sucedidos que tenham perdido os limites morais impostos pela sociedade – a fim de manterem sua força – não hesitam em demonstrar sua incivilidade para com os outros. Há quem veja a ameaça à civilidade nascendo destes “outros bárbaros: relativizadores, autodeferentes, narcisistas e igualitários que agora queimam as cidades”.Na verdade, estudos recentes indicam que pessoas excessivamente umbigocêntricas são as mais agressivas quando criticadas. Um destes estudos conclui que “os narcisistas querem, principalmente, punir ou destruir alguém que tenha ameaçado suas altamente favoráveis impressões de si mesmos.” Por que tais egoístas deveriam se importar com os outros no mínimo que fosse? Seu único motivo seria porque os outros poderiam ser usados para ajudá-los a atingir seus próprios objetivos egoístas. Portanto, a civilidade é um indicador importante da saúde de uma sociedade. A incivilidade pode, da mesma forma, indicar um declínio social. Levada às últimas conseqüências, ela não significa outra coisa se não a destruição da sociedade.
Numa perspectiva durkheimniana, agora é possível de se ver quão pálidos são os efeitos da incivilidade, em comparação com os verdadeiros custos que ela pode acarretar: a perda da coesão social que é, também, a raiz da causa social de nossa burguesia incivilizada. Civilidade é a moralidade durkheimniana, ou seja, uma adesão aos laços sociais. Incivilidade é o seu oposto, a anomia, a perda dos limites daqueles laços sociais. Tal fenômeno significa que a sociedade perdeu sua coesão. E, uma vez que a coesão é o cimento que mantém a sociedade unida, a presença dessa anomia é, em si mesma, um barômetro da deterioração social.” O autor, repito, está se referindo à realidade americana, porém, aquilo que diz pode muito bem se aplicar ao nosso caso. Para muitos, talvez, este tipo de reflexão pareça complicada e pedante. Mas é importante que nunca se abandone a capacidade de pensar. Creio que se não fizermos isto cairemos na armadilha da barbárie.

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