terça-feira, 4 de agosto de 2009

Collor e Lula: o diabo os juntou, finalmente

Agosto continua a manter sua sina aziaga na história política brasileira. Tem lá suas utilidades este destino reservado ao mês do antigo imperador romano. Os inumeráveis escândalos do Senado da República propiciam o desvelamento, aos olhos da opinião pública, de insuspeitadas alianças. Collor e Lula da Silva, por exemplo, outrora tidos como rivais, quem diria que se comportariam como "unha e carne" na trincheira dos que sempre gigolaram o povo brasileiro? Primitivos e brutais nos seus comportamentos e nas suas manifestações representam, ambos, facetas visíveis dentre as mais retrógradas da vida nacional. Os atos mais comezinhos, os gestos histriônicos, os discursos e as práticas nefastas de gestão da coisa pública denunciam, no entanto, a incrível, implausível porém verdadeira e orgânica afinidade. A muitos eles parecem estar, sempre, como que movidos pelo acicate de substâncias entorpecentes. Mas é um engano pensar em hipótese tão vulgar. Eles são, de fato, não mais que meros agentes de forças que os transcendem. São os dois, com efeito, luminares - duas cabeceiras - de alguns dos agrupamentos mais poderosos da chamada classe dominante.

Lula da Silva e seus sequazes pouco diferem, na substância, de Collor de Mello e seus acólitos. Coronéis que lideram, respectivamente, dois grandes blocos: o primeiro, composto pelo patriciado do funcionalismo público, personalidades, eminências e artistas, além da emergente fração dos controladores dos fundos de pensão e dos donos dos cartórios sindicais de todos os tipos, quer patronais quer de assalariados; o segundo, abrange oligarquias herdeiras de poderosas máquinas eleitorais regionais e locais, bem como expressivas parcelas do patriciado profissional tributário do emprego público. Disputam, nas eleições periódicas, com grande avidez, a preferência dos setores desorganizados das classes médias urbanas e do lumpesinato rural, que ainda existe em grande número pelo país afora manipulado pela Igreja Católica e pelos denominados movimentos sociais de natureza milenarista.

Parafraseando o ex-deputado Fernando Lyra pode-se dizer que a turma de Collor de Mello representa a "vanguarda do atraso", enquanto a turma de Lula da Silva abarca "o atraso da vanguarda". Os dois blocos se uniram hoje nesta interface sinistra. Sinistra para o povo, bem entendido, pois, para eles é o que de melhor poderia acontecer historicamente. Se Collor de Mello iniciou o processo de privatização das empresas públicas, os maiores beneficiários afinal de contas (pelo menos do filé mignon, como Vale do Rio Doce), foram os bilionários fundos de pensão controlados pela oligarquia sindical da qual Lula da Silva é a face mais notória.

Os dois blocos se unem, ainda, na compreensão do papel decisivo do Estado na manutenção dos velhos privilégios e na conquista de outros mais. Na sociedade de massas em que vivemos eles sabem que minorias políticas extremamente bem organizadas conseguem impor ao restante da população o ônus de bancar sua existência confortável, facilmente transferível a seus gulosos herdeiros de sangue e de fé por sucessivas gerações. É uma estrutura de poder tão forte que, mesmo aqueles que poderiam liderar uma alternativa mais moderna não têm forças nem coragem de arrostar este sofisticado sistema. Onde estão, digamos, as manifestações da CNBB, da OAB e outras sereníssimas Ordens, de personalidades que governam estados importantes (como Minas Gerais e São Paulo), artistas, professores, estudantes, profissionais liberais, intelectuais etc, frente a tudo isto que se passa à frente de todos? Esta nudez explícita de bandoleiros pornográficos que, quando ocorre em um campo de futebol, faz o atleta merecer um cartão vermelho? Que saudades dos tempos em que havia no Brasil homens como Tancredo, Brizola, Covas, Montoro, Teotônio Vilela, Raimundo Faoro e outros do mesmo barro... Nenhum deles ficaria em silêncio, neste silêncio cúmplice que todos testemunhamos agora de maneria tão generalizada. Nossa ínfima sorte é a presença pública de homens (com H maiúsculo), como os velhos e audaciosos senadores Jarbas Vasconcelos e Pedro Simon, entre outros, não tantos, que ainda existem, como gostaríamos. Estamos vivendo, para infelicidade e tristeza de muitos, sob o império dos Delúbios, dos Dirceus, dos Valdomiros, das Chauís, dos Lulas e mais outros 300 mil picaretas que não se cansam de se multiplicar como fungos ou outros tipos de parasitas.

Um comentário:

beto rocha disse...

Professor Machado, imagine um poder executivo federal composto por nossos senadores (tudo com minúsculas mesmo) : Presidente - josé sarney... ministro da educação - wellington salgado...ministro da casa civil - renan calheiros....ministro da justiça - almeida lima...ministro da fazenda - gim argello...ministro das minas e energia - lobão filho... ministro do planejamento - epitácio cafeteira....pode escolher um lugar para o romero jucá, fernando collor, paulo duque, ideli salvatti...nossa, quanta gente ruim !!!!