sexta-feira, 24 de julho de 2009

LULA, O FUTURO E A DEFESA PRÉVIA

Brasileiros comuns estão espantados com a desabrida defesa que Lula da Silva faz de notórios trapaceiros encastelados no Senado da República numa afinidade claramente eletiva. Buscam por acontecimentos e situações antigas e constatam as incoerências entre o que o atual presidente fala, hoje, com aquilo que ele proclamava, antes, aos quatro ventos quando desempenhava o papel de opositor. Poucos percebem, no entanto, que Lula da Silva olha mais para o futuro que para o passado. Ele não está defendendo Sarney, nem Calheiros, nem Jucá nem ninguém. Ele está defendendo a si próprio. Para tanto, está construindo uma linha estratégica de auto-defesa, provavelmente sob a supervisão de algum criminalista. Sabe ele que, mais cedo ou mais tarde, suas malfeitorias ainda não plenamente conhecidas serão questionadas e colocadas à luz do dia (sem falar do volumoso dossiê já existente e que daria para encher uma carreta de patifarias). Antes de sair do governo ele precisa se preparar para o enfrentamento político e judicial dos crimes pelos quais é o responsável direto ou indireto.

O projeto de Lula da Silva é construir uma teia de cumplicidades mais forte que a existente hoje e que o livre das mazelas futuras. Suas manobras para fazer dona Dilma sua sucessora se inscrevem nesta lógica. Ela seria a fiadora de sua impunidade. Por isso sua insistência em apoiar alguém sem luz própria (e desprovida das necessárias qualidades políticas), para ocupar o cargo de presidente da república. O modelo a ser seguido é o que aconteceu em Belo Horizonte nas últimas eleições. Para abafar as estripulias de uma década e meia conduzidas por Fernando Pimentel e sua turma na capital mineira, foi produzida uma candidatura fantoche personificada numa figura anódina e sem qualquer brilho. O plano deu certo. Foi eleito uma espécie de sub-Dilma local, ajustado às dimensões da política municipal, mostrando que o truque poderia ser repetido em escala nacional, desde que bem azeitado com o unto econômico e político.

Que os céticos não subestimem o papel de laboratório político e comportamental de Belo Horizonte. A gênese do mensalão (a jóia da Coroa no interminável rol dos escândalos do petismo), bem como das lucrativas relações partidárias com entidades financeiras dispostas a qualquer negócio está na capital mineira. Ou alguém acha que é por acaso que os bancos envolvidos naquele célebre episódio sejam todos, repita-se, todos, estabelecidos com suas sedes em Minas Gerais? Qual a razão de não haver nenhum banco sediado em São Paulo, ou outro lugar, participando daquela patifaria? Bancos não fazem caridade. Bancos, à exceção de bancos de sangue, não são organizações beneficentes nem vicentinas. Bancos fazem negócios, rendosos e grandes, preferencialmente, e com pouco ou nenhum risco para eles próprios. Ou alguém conhece algum banco que faz empréstimos sem que o tomador do mútuo precise liquidar a dívida, conforme ficou parecendo ocorrer com o tal Marcos Valério a quem o Banco Rural e o BMG emprestavam quantias crescentes sem qualquer garantia? Ora, se emprestavam sem garantias reais era porque a "dívida" não era para ser paga. Esta "generosidade" mostra, então, um paradoxo que precisa de explicação, dado que banqueiros são criaturas extremamente devotadas ao dinheiro. Eles não costumam dar nada para ninguém, nem bom dia segundo a lenda. Bancos tomam dinheiro dos outros, não o dão de graça. Se fizessem isto seriam criaturas degeneradas, clientes certos a hóspedes de algum hospício. Nem o banqueiro anarquista aludido por Fernando Pessoa cometia tal loucura.

O miolo do mensalão foi, pois, uma operação financeira bem urdida para tirar dinheiro dos cofres públicos visando atender interesses partidários infames do PT e, também, em menor medida ambições materiais dos parceiros. Essa é que foi a grande questão. Ela não se resumia à propalada Caixa 2 de campanhas eleitorais. Propinas dadas a políticos em geral são, com efeito, velhas práticas de todos os tempos. "Quem quer dinheiro?", já bradava Sílvio Santos em seu programa dominical. Se alguém andar pelas ruas e perguntar ao primeiro passante se ele quer uma nota de R$50 ou de R$100 certamente vai receber uma resposta positiva. Parafraseando, portanto, Silvio Santos, quem não quer dinheiro? Então, constatar que havia políticos recebendo, ou dispostos a receber, dinheiro sonante de montão não quer dizer nada. O problema era: onde conseguir a grana para distribuir para a moçada? Os engenhosos capitalistas do capital alheio (melhor definição possível para a empresa PT S/A), sabiam que a procedência teria que ser algum cofre público. A experiência no movimento sindical indicava que o dinheiro não pode ser inventado mas pode ser desviado para finalidades múltiplas e, até, contrárias àquelas para as quais ele estaria destinado. Os cofres sindicais representaram o treinamento no uso de patrimônio público para financiar campanhas partidárias petistas e de suas legendas subalternas (ou o dinheiro do imposto sindical não é público?) Veja-se, a propósito, que a lenga-lenga petista e de seus associados (como o PC do B) é sempre no sentido do "controle social" dos recursos coletivos. Quando, porém, se trata de prestar contas do uso e destino do imposto sindical a posição deles é de completo repúdio e desdém. Parecem dizer que no seu mandiocal ninguém (quer dizer, a sociedade), vai botar a mão. Os Tribunais de Contas não poderiam fiscalizar, através de uma Câmara específica, o destino daquele imposto? Mais: os Tribunais eleitorais não deveriam fiscalizar as eleições fraudulentas dos milhares de sindicatos existentes, tanto de trabalhadores quanto dos patrões?

Mas voltemos à engenharia financeira do mensalão. Retirar dinheiro do governo é um negócio difícil. Os controles burocráticos, mesmo que ineficientes e obscuros, costumam deixar alguma fresta inconveniente aos que agem de má fé. Sempre fica algum rastro, algum registro, algum documento que pode comprometer uma operação suspeita e botar os envolvidos com a bunda de fora. Fornecedores do poder público, no entanto, podem ser induzidos a tomar empréstimos na rede bancária amiga e a dar como garantia de pagamento as faturas que eles têm a receber do governo. Um acerto prévio com os bancos - que poderão fazer operações lucrativas e isentas de riscos - permitiria, por exemplo, imaginar uma divisão dos "lucros" entre os parceiros (entendidos aqui como os bancos e algum governo, ou empresa pública, ou empresa de capital misto, ou alguma entidade similar, tipo autarquia). Como induzir os fornecedores a fazerem isto, eis o problema. Resposta simples: basta reter os pagamentos devidos aos credores (por ausência de disponibilidade financeira real ou por deliberada decisão neste sentido). Uma empresa de lixo que tenha uma dívida a receber de R$10 milhões, digamos, leva a fatura ao banco amigo indicado pelo governante e recebe um empréstimo naquele valor (melhor será a pressão se o fornecedor estiver com a corda no pescoço). Só que o banco amigo cobra os juros "por dentro" ou antecipadamente e repassa ao tomador do empréstimo apenas R$8 milhões. Passados alguns meses o banco amigo vai ao governante e recebe a fatura. O banqueiro ganhou, portanto, R$2 milhões sem qualquer dificuldade. Nada mais justo que ele divida o "lucro", até rachando a bufunfa na base de metade para cada um. Alguém poderá perguntar: e o tomador do empréstimo, ficará no prejuízo? Não, não ficará. O governante usará um artifício da Lei de Licitações e fará "uma recomposição de preços e valores", dentro dos limites permitidos, e pagará os R$2 milhões restantes a quem de direito. Ora, de fato, quem pagou os juros? O devedor, ou seja, a prefeitura, ou o estado, ou a empresa pública ou similar, vale dizer, indiretamente o povo. E tudo de maneira subreptícia, sem qualquer publicidade.

A dificuldade seguinte será retirar dos cofres do banco amigo a parte que cabe ao parceiro governamental oculto. Não se pode chegar na boca do caixa de um estabelecimento bancário e pedir: "ô me dá meu dinheiro aí..." Nem pedir para fazer um depósito em conta pois ficarão as digitais e as auditorias e fiscalizações costumeiras irão detectar operações anômalas, além de deixar o rabo preso. A solução é recorrer a figuras como o tal Marcos Valério. Pode-se ligar para o banqueiro amigo e dizer: "faça um empréstimo correspondente à minha parte para fulano de tal". O banco faz, sem maiores questionamentos, pois o dinheiro não é dele mesmo. E ainda tem um ganho suplementar. O "empréstimo" fajuto" (que nunca será pago), poderá legalmente ser lançado em "créditos em liquidação" e permitir dedução do imposto de renda devido pelo banco. Evidentemente que os parceiros terão que ser "confiáveis" uns para os outros (se é que se pode abusar do uso desta expressão - confiável!) Com o dinheiro na mão passa-se ao segundo momento do plano, ou seja, a compra de votos e de consciência, além do financiamento de campanhas de aliados que comporão e reforçarão a quadrilha no futuro.

A continuidade operacional de tal esquema, além do não desvendamento dos mecanismos que o sustentam exige, para sua impunidade permanente, que os atores recebam a devida proteção no futuro. E é aqui que se fecha o raciocínio iniciado com Lula e seu aparentemente estranho e contraditório comportamento. Na capital mineira, para que fosse colocada uma pedra sobre os assuntos cabulosos da gestão petista, foi necessária uma operação política destinada a eleger um "poste", tal qual se pretende fazer no plano federal em 2010 com outro poste (a tal dona Dilma). Seria mera coincidência que vários dos personagens em questão sejam ativos operadores financeiros desde o tempo da guerrilha e dos assaltos a bancos e cofres alheios? Essa gente tem um vasto e comprovável currículo (aí, sim, sem precisar recorrer ao sistema Lattes), cuja matriz belorizontina está na velha POLOP de antanho dos já distantes anos 60 do século passado. Numa metáfora rudimentar pode-se chamar dona Dilma de o "Márcio Lacerda de Lula". As situações são similares e os barros de que são feitos muito mais parecidos ainda.

Um comentário:

Laguardia disse...

Muito bom o seu post. Retrata com fidelidade o que Lula pretente fazer ao olhar para o futuro.

Lula durante este tempo de governo amealhou muita riqueza proveniente dos cofres públicos deixando o povo a sua própria sorte.

Espero que tenhamos a capacidade de reverter esta situação algum dia e possamos por estas pessoas onde elas merecem estar, ou seja na cadeaia.