sexta-feira, 16 de abril de 2021

Os sabichões do Supremo

 Nas histórias em quadrinhos do Brucutu há uma hilariante coleção de personagens: o rei Guz, a rainha Umpa e mais outras ridículas figuras dentre as quais se destaca  o Grande Sabichão. Este é o sábio, o feiticeiro, o factotum da aldeia. Nada escapa à sua percuciente análise do que seja o correto caminho da cura dos malefícios que eventualmente aparecem, sejam eles físicos ou espirituais. Ao contrário do que acontece no Supremo Tribunal Federal da pátria, no qual se pavoneiam onze sabichões, a tribo pré-histórica de Brucutu só tem um exemplar deste sábio. Talvez essa diferença numérica seja um indicador de potência civilizatória: mais sofisticado o grupo humano, em qualquer tempo e lugar, mais sabichões serão necessários para a manutenção da lei e da ordem, além do bem estar e segurança de todos.

Quem sabe o Brasil não esteja a necessitar de mais sabichões, para ilustrar e fortalecer seu máximo tribunal? O Sinédrio judaico possuía, naqueles tempos bíblicos, um total de 71 membros. Os pouco mais que uma dezena de magistrados, do Supremo atual, estão muito aquém daquele número. No entanto, vem recebendo tal carga de demanda que criou-se uma situação quase desumana, verdadeira exploração do outro, análoga à condição de escravo. Os sabichões do Supremo, qualquer um pode notar, aparentam evidente ar de canssaço , obrigados a ler enfadonhos relatórios uns para os outros. Possivelmente, estão remoendo dentro de si enquanto pensam na vasta coleção de processos estocados nos depósitos e gavetas de suas repartições; e sofrem antecipadamente com a torturante imagem de que algum dia precisarão ouvir a mesma xaropada; muito mais choro e ranger de dentes que horas de seda e ouro. 

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