“A liberdade é
vermelha”, escreve num post de Paris Mônica Moura, mulher do marqueteiro João
Santana. É uma alusão a uma trilogia de filmes inspirados nas cores da bandeira
francesa. O primeiro deles se chamou “A liberdade é azul”. É compreensível que
Mônica Moura tenha escolhido o vermelho entre as cores da bandeira. E que tenha
escolhido a liberdade do lema da Revolução Francesa, que também conta com
fraternidade e igualdade.
João Santana e
Mônica ficaram milionários levantando a bandeira vermelha, no Brasil, na
Venezuela, com as campanhas agressivas do PT e do chavismo. Com os bolsos
entupidos de dólares, a liberdade é vermelha, pois à custa da manipulação dos
eleitores latino-americanos, João Santana e Mônica Moura podem viajar pelo
mundo com um padrão de vida milionário.
Mas chega o momento
em que a cadeia é vermelha, e Mônica Moura não percebeu essa inversão. Nas
celas da Polícia Federal e do presídio em Curitiba, o vermelho predomina. José
Dirceu, Vaccari, o PT é vermelho. Marcelo Odebrecht, a Odebrecht é vermelha,
basta olhar seus cartazes.
Uma vez entrei na
Papuda e filmei uma cela vermelha com o número 13. Os condenados do mensalão
estavam a ocupar o presídio. A divulgação da imagem foi um Deus nos acuda,
insultos: as pessoas não têm muita paciência para símbolos. Mônica Moura fala
esta linguagem. Se tivesse visto o take de seis segundos da cela vermelha, ela
iria buscar outra cor para a liberdade.
A situação de Dilma
e a do chavismo convergem para um mesmo ponto: tanto lá quanto aqui a aspiração
majoritária é derrubá-los do poder. João Santana, num país onde se valoriza a
esperteza, foi considerado um gênio. Gênio da propaganda enganosa, dos
melodramas, dos ataques sórdidos contra adversários. O único critério usado é a
eficácia eleitoral avaliada em milhões de dólares, certamente com taxa extra
para os postes, Dilma e Haddad.
Sua obra
continental se espelha também no resultado dos governos que ajudou a eleger:
Dilma e Maduro são rejeitados pela maioria em seus países. O que aconteceu na
semana passada é simplesmente o fim do caminho. Com abundantes documentos,
cooperação dos Estados Unidos e da Suíça, não há espaço para truque de
marqueteiros.
O dinheiro de
Santana não veio de fora. Saiu do Brasil. Saiu de uma empresa que tinha
negócios com a Petrobras, foi mandado para o exterior por seu lobista Zwi
Skornicki. E saiu também pela Odebrecht.
A Lava Jato
demonstrou que a campanha de Dilma foi feita com dinheiro roubado da Petrobras.
E agora? Não é uma tese política, mas um fato, com transações documentadas.
Na semana passada
ouvi os panelaços por causa do programa do PT. O programa foi ao ar um dia
depois da prisão de João Santana. Mas o tom era o mesmo, uma mistificação para
levantar os ânimos. E um pedido de Lula: parem de falar da crise que as coisas
melhoram.
Em que mundo eles
estão? Em 2003, já afirmei numa entrevista que o PT estava morto como proposta
renovadora. Um pouco adiante, com o mensalão, escrevi “Flores para los
muertos”, mostrando como uma experiência que se dizia histórica terminou na
porta da delegacia.
Na semana passada,
escrevi “O processo de morrer”. Não tenho mais saída exceto apelar para “O
livro tibetano dos mortos”, que dá conselhos aos que já não estão entre nós. O
conselho é seguir em frente, não se apegar, não ficar rondando o mundo que
deixaram.
Experimentei aquele
panelaço como uma cerimônia de exorcismo: as pessoas saíam às janelas e
varandas para espantar fantasmas que ainda estavam rondando as casas. Poc, poc,
poc. Na noite escura, o silêncio, um grito ao longe: fora PT. E o PT na tela
convidando para entrar nas fantasias paradisíacas tipo João Santana, já
trancafiado numa cela da PF em Curitiba.
Simplesmente não dá
para continuar mais neste pesadelo de um país em crise, epidemia de zika,
desemprego, desastres ambientais, é preciso desatar o nó, encontrar um governo
provisório que nos leve a 2018.
De todas as frentes
da crise, a que mais depende da vontade das pessoas é a política. Se o
Congresso apoiado por um movimento popular não resolver, o TSE acabará
resolvendo. Com isso que está aí o Brasil chegará a 2018 como um caco, não só
pela exaustão material, mas também por não ter punido um governo que se elegeu
com dinheiro do assalto à Petrobras.
É hora de o país
pegar o impulso da Lava Jato: carro limpo, governo derrubado, de novo na
estrada. É uma estrada dura, contenções, recuperação da credibilidade,
quebradeira nos estados e cidades. É pau, é pedra, é o fim do caminho.
A semana, com a
prisão do marqueteiro do PT e os dados sobre as transações financeiras, trouxe
mais claramente o sentido de urgência. E a esperança de sair desta maré.
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