quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Mau exemplo: censura a Paulo Coelho

O intercâmbio entre o Brasil e o Irã parece estar dando resultados. Depois da censura a Monteiro Lobato patrocinado pelo Conselho Nacional de Educação (?), os aiatolás atômicos resolveram imitar os obscurantistas brasileiros (provavelmente sob a sinistra inspiração de Lula da Silva), e proibiram a publicação das obras do inefável Paulo Coelho. A Monteiro Lobato até seria compreensível algum tipo de restrição. Afinal de contas ele tinha a alma de caricaturista. Herman Lima em sua "História da Caricatura no Brasil" já chamava a atenção para "o acurado conhecimento que Monteiro Lobato desfrutava no terreno da caricatura universal". Transitando do desenho e da pintura (suas paixões iniciais) para a prosa, o criador de Jeca Tatu só modificou a forma de descrever o mundo que via e que, aliás, tanto merecia suas ironias e verrinas certeiras. Em suas próprias palavras, nada mais tinha feito "senão pintar com palavras. Minha impressão predominante é puramente visual". Compreende-se, pois, que Lobato ainda hoje incomode os bem comportados, os politicamente corretos, os cátaros redivivos etc., numa prova cabal da vitalidade dos seus textos. Os poderosos e as autoridades de todos os tempos, sabe-se bem, nunca suportaram o efeito corrosivo do humor.

Mas censurar Paulo Coelho, como estão fazendo as autoridades iranianas? A que ponto não chegou o fanatismo dos xiitas! Inspirado em relatos da tradição sufi, em contos das 1001 noites e em outras fontes similares provindas principalmente do extremo oriente, este autor, de uma certa maneira, faz uma releitura um tanto edulcurada, pasteurizada mesmo, destas velhas versões, lendas e fábulas milenares pertencentes ao patrimônio da humanidade. Simplifica, sim, mas há, todavia, grandes méritos em seu trabalho intelectual. Ao convidar milhões de pessoas a tomarem um livro - e lê-lo - contribui para criar bases para um avanço espiritual e cultural incontestável em diferentes lugares do mundo. As páginas de Paulo Coelho em nada lembram os Versos Satânicos, exceto por contraste, para merecerem quaisquer reparos dos aiatolás.

O fato é que os censores de todos os tempos e lugares se irmanam na sua proverbial estupidez. Eles, no entanto, passarão, como passaram os que queriam colocar uma tanga em figuras pintadas pela artista Yara Tupynambá em obscura igreja de Minas Gerais anos atrás. Esse tipo de gente também não hesitaria em cobrir as partes pudendas do Davi, de Michelangelo, ou lançar ao fogo as obras que os torturam com verdades, tal como fizeram os nazistas outrora e professores petistas em 2010, na cidade de São Paulo. Torçamos para que a inteligência, afinal, prevaleça.

Nenhum comentário: