quinta-feira, 20 de maio de 2010

Os homens ou os sistemas políticos?

"A EXPERIÊNCIA FRUSTRANTE DE ACREDITAR MAIS UMA VEZ QUE O PROBLEMA SÃO OS HOMENS E NÃO OS SISTEMAS POLÍTICOS"! (Trechos do artigo de Jorge Fernández Díaz, no La Nacion)

1. Os homens, assim como os meninos, querem que contemos sempre a mesma história, e a arte consiste em fazer com que pareça sempre diferente. Vale a máxima de Oscar Wilde: "O único dever que temos para com a história é reescrevê-la”.

2. O mítico final de Júlio César só funciona hoje como uma simples metáfora para o declínio e derrota de um governante. Esclarecimento fundamental nesta era de má-fé, em que tudo é manipulado para o escárnio. Essa metáfora, explica que o que aconteceu em Roma em 15 de Março do ano 44 AC e tem conotações no presente: "Para a sociedade civil apresentava-se então, como se apresenta agora, se prefere a liberdade ou a segurança e a paz”.

3. O poder supremo de César foi o produto de um longo período de desintegração e caos que o havia precedido. A sociedade buscou um homem forte e, em seguida, começou a queixar-se quando esse líder providencial se perpetuou no poder e adotou as irritantes atitudes de um monarca.

4. No palácio, uma amante de César o surpreendeu em uma intimidade exausta e fatalista, e disse: "Quanto maior é o seu poder, maior a inveja; quanto maior é seu valor, maior é o ódio. É inevitável”. César sentia que não somente seus inimigos políticos preparavam sua queda, mas toda sociedade esperava, cansada e ansiosa, esse resultado. O resultado é conhecido: um grupo de "guerreiros da liberdade" esperam por Júlio César no Senado e o apunhalam, e depois saem à rua à procura de vivas e aplausos do povo.

5. Os eventos que seguem estas primeiras horas são ainda mais interessantes, já que contém uma inquietante lição política. O protagonista deste segundo momento - Marco António - não aceitou participar, mas tampouco denunciou os conspiradores. Ele era partidário do partido do poder. E fez imediatamente uma descoberta surpreendente: "Não sabem o que fazer. Não têm a menor idéia. Ninguém se preocupou em pensar o que iria acontecer depois". Ele estava se referindo aos "libertadores", como se nomearam.

6. O único projeto que tinham era substituir Júlio César, uma obsessão que não havia lhes permitido definir que rumo seria dado ao Império Romano. Marco Antonio triunfou naquele dia, já que era um cesarista prodigioso e contava com aparato e uma verdadeira vocação para o poder. Os resultados foram, no entanto, catastróficos: uma série de lutas e guerras internas irromperam, a República caiu em desgraça e foi substituída por uma variação da monarquia chamada principado, com uma figura monumental como Augusto e uma cadeia de césares ditatoriais culminando em Nero.

7. Mostra a inutilidade da derrubada de César e a seqüência de mal-entendidos e cegueira entre os líderes e governantes, os riscos de procurar o poder absoluto, a leviandade de quem quer o governo sem saber exatamente o que fazer com ele e a experiência frustrante de acreditar mais uma vez que o problema são os homens e não os sistemas políticos e as sociedades que os tenham parido. Está certo. O único dever que temos para com a história é reescrevê-la. Assim nos livros como na realidade."

(Extraído do ex-blog de Cesar Maia, em 20/05/2010)

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