terça-feira, 12 de agosto de 2008

OBSCURAS ALIANCAS EM BELO HORIZONTE

A sucessão em Belo Horizonte é um exemplo do vale-tudo, verdadeira luta livre onde todos os golpes são permitidos. Basta cada um observar o que está ocorrendo e tirar, então, suas próprias conclusões. Talvez a população da capital até esteja fazendo isto no seu íntimo, o que explicaria sua larga faixa de indefinição quanto à intenção de voto para prefeito. Com efeito, há chapas que são deploráveis sob qualquer ponto de vista. Veja-se o caso das duas candidaturas da continuidade – as encabeçadas por Márcio Lacerda e por Jô Morais.

A chapa de Jô Morais é uma obra prima do absurdo. Agrega ela a escória petista, mais os representantes do peleguismo sindical patronal, mais os herdeiros do delírio stalinista e, para coroar o balaio de caranguejo, as forças lideradas pelo bispo Edir Macedo - chefe inconteste da Igreja Universal do Reino de Deus. Quem este amontoado de gente quer representar, quando pede o voto ao eleitor? Sob a proteção suprema do atual vice-presidente – ex-senador José Alencar - empresário do tipo chapa branca, daqueles que enricaram com as benesses dos créditos oficiais, a deputada do PC do B ainda quer se apresentar ao eleitorado como se oposição fosse. Alguns desavisados chegam, mesmo, a acreditar nesta possibilidade.

O que une estes bandos, no entanto, não são convicções defensáveis. O que solda esta aliança estapafúrdia é a compreensão comum de que o poder público é um bom negócio, ou seja, uma sólida fonte de renda que cumpre cultivar. Dos cofres públicos, verdadeira cornucópia, jorra inesgotável pecúnia. Dali sai o gostoso dinheiro do BNDES e, também, o amoroso mensalão, aquele que adocica comportamentos, garante fidelidades e financia campanhas eleitorais. Todos estes “bons companheiros” são parte das falanges que enfeitaram as páginas políticas e policiais dos últimos cinco anos.

O partido do atual vice-presidente, que era comandado por um esquisito deputado paulista – um tal de Valdemar Costa Neto – por uma questão de prudência resolveu mudar de nome. Mudou o nome, porém, não promoveram a mudança dos nomes de seus integrantes. A nódoa, portanto, permanece. Só está esmaecida pelas graças do esquecimento popular. A pelegada eclesial do bispo Macedo (da linhagem de Anás e Caifás) move-se à sombra de José Alencar que, possuidor de uma cara de boi sonso, angaria vagas simpatias potencializadas por seu infortúnio pessoal na luta contra um câncer nas tripas. A cúpula da Universal sabe que é necessária uma espécie de aríete para arrombar a porta dos governos estabelecidos de maneira democrática. A experiência lhes tem mostrado que colocar um dos seus à frente das disputas eleitorais é condenar-se à derrota certa, uma inescapável crônica de uma morte anunciada. O exemplo do Rio de Janeiro, onde um sobrinho direto do próprio Edir Macedo (o senador Crivela, o mesmo que inventou um projeto vulgarmente assistencialista que resultou na morte de três jovens – assassinados por traficantes de um morro rival após serem entregues ao martírio por membros do exército brasileiro), está postulando a prefeitura da cidade maravilhosa, aponta para a importância de se ter alguém que faça, às vezes, de “cavalo de Tróia”. No caso de Belo Horizonte, a fachada do engodo é propiciada pela deputada do PC do B. Com cara que sugere aquelas beatas que vivem a debulhar o rosário nos escuros das sacristias, ela tem um álibi perfeito para o passa moleque pretendido. Realmente, é fantástico apreciar a implausível junção dos antigos endeusadores da infeliz Albânia com os cúpidos herdeiros do Sinédrio judaico.

No entanto, pode ser que nem seja tão absurdo assim, se estiverem corretas as análises de Djilas (um dos primeiros a denunciar a formação da “nova classe” dos burocratas profissionais stalinistas), em vista dos partidos em tela (PC do B e IURD), terem como projeto real cultuar uma espécie de “religião” que os enriqueça e os libere das fadigas do trabalho. As prescrições mosaicas estabeleciam que os levitas não deveriam trabalhar produtivamente, vivendo somente para servir ao Tabernáculo e às coisas de D´us. Os fiéis têm a obrigação, portanto, de bancar o vasto número de comensais da Salvação, através de dízimos, primícias e outras espórtulas complementares. Lênin e Stalin também prescreviam, como um dos pilares de sua exótica doutrina, que seus “sacerdotes” fossem profissionais da “política”, dedicados em tempo integral à defesa da “causa”. Para viabilizar isto haveria de se tomar de assalto os ricos cofres de sindicatos, de entidades estudantis e as inúmeras bocadas propiciadas por todos os governos, principalmente agora que o “ouro de Moscou” é só uma quimera do passado.

Na tessitura profunda de seus interesses materiais, e de suas convicções, se encontraria, assim, o lastro que une a Igreja Universal do Reino de Deus – a IURD – e a igreja atéia congregada no PC do B. Eis aí o pano de fundo da inefável chapa liderada por Jô Morais e um obscuro pastor do Reino de Deus, que é seu vice, e de quem nunca se fala nas propagandas da candidata. Aqui vale a máxima popular: Deus os fez e o diabo os ajuntou. Será cômico o dia em que a candidata comparecer a uma sessão de “macumba” no monumental templo da Avenida Olegário Maciel. A região ali próxima ficará impregnada dos “encostos”. Certamente, a “companheirada” exorcista terá muito trabalho para expurgar tanta coisa ruim. T’esconjuro!

Controlar a prefeitura de Belo Horizonte é garantir o acesso aos mecanismos que permitem obtenção de licenças e autorizações (como aquela que permitiu a construção do legítimo “shopping da fé”). Na sua insuperável visão, Dante Alighieri profetizou punições específicas para feiticeiros, falsários e simoníacos. Não imaginou, contudo, a que ponto poderiam chegar determinadas frações da humanidade atual. Se vivesse nos tempos contemporâneos, o capítulo do “Inferno” seria, certamente, bem mais extenso. O genial florentino haveria que postular novos pecados, e novas punições, para ampliar a Divina Comédia. A Arte seria, pelo menos, enriquecida com versos cuja apreciação se alonga pela Eternidade.

A turma de Jô Morais – estes verdadeiros “empresários” do patrimônio público – não busca se enriquecer individualmente, tal como o fazem empresários da iniciativa privada. Sua lógica é, antes a do formigueiro que da colméia (as abelhas têm a seu favor o fato de segregarem o mel, contribuindo para a floração da vida). Já a rainha das formigas só faz botar os ovos; enquanto isto, os operários buscam comida incessantemente, devastando os campos; os serviçais de plantão alimentam as larvas e os guardas vigiam os caminhos atacando os inimigos internos e externos. É uma compreensão da vida mais etológica que sociológica. Todos dentro do formigueiro beliscam alguma coisa (pois ninguém fica fora do negócio), vivendo a orgânica sociedade numa relativa harmonia.

Platão endossaria o projeto do qual Jô Morais é defensora. Talvez, até, se afiliasse ao PC do B. Afinal, o velho grego foi um dos primeiros a formular uma concepção totalitária de sociedade, tão ao gosto dos anacrônicos herdeiros do stalinismo.

As “formigas” de Jô Morais anseiam pelo aumento dos impostos. Ela própria defendeu, no primeiro debate televisivo na rede Bandeirantes, uma forte tributação imobiliária. Os maiores escorchados serão os donos de modestos apartamentos (comprados com uma vida inteira de poupança). O pessoal do PC do B e da IURD sabem que, para poder financiar a boa vida do vasto conjunto da companheirada, há que se extrair alguma “mais valia” do cidadão. Seu lema de campanha (até para fazer justiça aos aliados), deveria ser “fé em Deus e unha no povo”. Ai dos vencidos, já dizia Cezar! Numa eventual vitória dessa gente, os moradores deste Triste Horizonte se lembrarão com inveja dos tempos imemoriais da Conjuração Mineira, quando dona Maria, a louca, só queria extorquir uma quinta parte da renda dos mineiros. Se hoje já nos aproximamos do dobro (pois quase 40% da riqueza da sociedade é apropriada pelos governos), a eleição de Jô Morais, a tresloucada, sinaliza para uma verdadeira escravidão coletiva dos cidadãos. A famigerada CPMF, aliás, que o governo federal quer ressuscitar, teve o apoio entusiástico, além do voto, da deputada federal Jô Morais. Ela bem sabe que Lula e sua sofisticada quadrilha só querem, mesmo, é esfolar mais o povo brasileiro, notadamente a classe média. Para quê? Para poderem usar o dinheiro para pagar os juros aos banqueiros, para criar cabides infindáveis de empregos (não inventaram, agora recentemente, o Ministério da Pesca?), e para pagar o cala boca, na forma de mensalão, a seus aliados predadores (Sarney, Barbalho, Calheiros, Maluf, Professores Delúbio, Luizinho e Walfrido, Marcos Valério, bispo Rodrigues etc.), e mais uma lista infindável que cobriria um catálogo telefônico.

A escória do PT, por outro lado, é composta pelos “santinhos do pau oco” da política. Adeptos do mais deslavado assistencialismo como forma de fazer política, seu mentor espiritual é o ex-prefeito Patrus Ananias, o santarrão carola. Compreende um monte de parasitas dos escalões inferiores da máquina administrativa pública, distribuídos pelos diferentes níveis de governo – municipal, estadual e federal. São os pequenos mordedores que, em bloco, e de forma inteligente, se dividiram para, qualquer que seja o resultado esperado das eleições (caso vençam, ou Jô Morais ou Márcio Lacerda), poderem perpetuar a “boquinha”, conforme apontou, em memorável definição, o ex-governador Garotinho.

Este é o plano deles, o que não quer dizer que vá dá certo. Cevados em mais de 15 anos encostados nas inumeráveis assessorias, consultorias, gerências e múltiplas outras formas de terceirização (através de ONG´s, Cooperativas, sindicatos etc.), mecanismos usuais utilizados para abocanhar um naco das verbas públicas, vêem com terror a possível exigência, posta pelo destino, de terem que trabalhar, como o comum dos mortais, a fim de se sustentarem e às suas famílias. Nos cenários e nas articulações conduzidas pelo atual prefeito, o futuro da prefeitura de Belo Horizonte não comportaria esta arraia miúda. Na eventualidade da vitória de Márcio Lacerda, só os lambe cus de Pimentel é que continuariam abrigados no amplo regaço das dezenas de secretarias municipais e órgãos da administração indireta. Estes, não por acaso, são os que controlam o aparelho partidário municipal, decisivo para a definição futura do candidato a governador em 2010. Dependendo da situação política, as injunções podem levar Pimentel, até, a migrar para o PSB, juntamente com seu amigo do peito – o atual governador Aécio Neves. Seria uma dobradinha de arromba. O caminho para isto vem sendo pavimentado gradativamente. Os ratos já começam a abandonar o navio, conforme se vê no noticiário (Tilden Santiago, eminência dos maiores da nação petista acaba de se aboletar no PSB sob as bênçãos de Ciro Gomes). Percebem, estes velhacos, que um cansaço da população com o petismo começa a se configurar.

Desde tempos imemoriais os ratos são os primeiros a fugir. E um transatlântico do porte do PT demora muito a ir a pique. Só os ratos percebem o risco que o barco corre (talvez por uma qualidade genética de farejar grandes perigos). A fadiga de material, com efeito, não acomete somente as coisas físicas. Também instâncias simbólicas sofrem da mesma ameaça. Casamentos sólidos se dissolvem no ar, marcas históricas entram em colapso, discursos políticos se esvaziam como pregações no deserto. Alípio, o conde de Abranhos, ao justificar sua mudança partidária (na célebre obra homônima de Eça de Queiroz), alegou que “sentia” que o governo estava “gasto”. Era hora, portanto, de mudar de pouso. E é o que Pimentel e Aécio estão fazendo estrategicamente. Vão deixar o pau de bosta nas mãos dos outros e, seguindo o que farejaram, vão mudar para que tudo fique como está. Lampedusa puro!

Somente um eventual surto de lucidez do eleitorado de Belo Horizonte poderá abortar o plano destes cafajestes. A ala petista mais mercenária – aquela que transformou a busca do poder numa oportunidade de boas negociatas – marcha unida com seus aliados tucanos e seu séquito de desfibrados políticos (distribuídos no PV, PPS, PTB e outras siglas destinadas a operações de compra e venda). Buscaram um milionário que se enriqueceu fabulosamente com atividades na área da telefonia (isto no tempo em que as empresas de tele-comunicação eram, não por acaso, controladas pelo governo), e pretendem empurrar, goela abaixo dos eleitores, a escolha feita por eles, como se fossem mandarins. E eles o são: mandarins cintilantes, atualmente governando a prefeitura e o estado. O tal Márcio Lacerda é tão fabulosamente rico que chega a ter um patrimônio superior a um dos mais notórios ladrões e nababos brasileiros – o ex-governador Paulo Salim Maluf – conforme declarações dos candidatos a prefeito registradas nos tribunais eleitorais. Só o palacete onde mora – não em Belo Horizonte, é claro, e, sim, em Brumadinho, no mais luxuoso condomínio na região sul da capital mineira – está avaliado em R$3,4 milhões. Para uma residência valer tanto dinheiro, ela deve ter coisas como torneiras banhadas a ouro e revestimentos do mais puro mármore de Carrara. Se não é moradia de marajá, ao menos deve ser de algo próximo a rajá, tal a magnitude do seu valor. Seria interessante saber quanto paga de IPTU.

Percepção do risco que significa viver em Belo Horizonte, pelo menos ele tem, pois foi morar bem longe das mazelas que assolam grande parte dos cidadãos, além de outros males, como a poluição ambiental, e os infernais engarrafamentos de trânsito. Realmente, é muito mais aprazível, e mais seguro, viver num lugar com todas as bem aventuranças que a natureza oferece, e que uma boa quantidade de dinheiro pode comprar, que entre os simples mortais que labutam na cidade grande! E mais: velejar, nas férias, pelas águas azuis do Adriático, pousando aqui e ali nas paradisíacas ilhas que ponteiam a doce Itália e a vetusta Grécia, recuperando, quem sabe, a milenar e gloriosa vilegiatura de Ulisses. Dá para imaginar o tal Márcio Lacerda na pose de marinheiro viking, com sua barbicha dourada e a postura forte dos que são capazes de encarar até o canto das sereias, comandando sua disciplinada tripulação com a voz típica dos mandões de todos os tempos: “arriar velas, descer a bujarrona, subir à gávea, preparar os canhões...”. E, assim, o barquinho vai...





2 comentários:

Anônimo disse...

Machado!

Muito bom seu texto. Vou imprimi-lo para reler com o cuidado a que se deve dar as preciosiodades da política e da literatura.
Abraços da diva

Anônimo disse...

Ótimo comentário. Na minha parca opinião, o eleitorado de BH irá "obedecer" os infalíveis mandatários: Prefeito de BH e Governador de MG. Infelizmente alianças aqui são assim!