quinta-feira, 24 de abril de 2008

SINDICALISMO E PELEGUISMO

Num dia muito antigo, na Judéia, aconteceu decisiva eleição (talvez a primeira dos novos tempos). Dois hebreus disputavam, segundo o costume da época, quem seria libertado e quem seria condenado. No tribunal, presidido por aparentemente severo magistrado romano, defrontavam-se o Divino Mestre e um conhecido canalha. Insuflado pelos pontífices (Anás e Caifás), o povo votou no criminoso em detrimento do Justo. No dizer de Marcos (15:15), "Então Pilatos, querendo contentar a multidão, soltou-lhe Barrabás; e, após mandar açoitar a Jesus, entregou-o para ser crucificado". O resto da história, todos conhecem. Estes velhos acontecimentos parecem se reproduzir no Brasil contemporâneo, como se o cenário bíblico fosse uma profecia que se atualizasse ao longo dos tempos. O Barrabás de hoje, reencarnado, foi eleito e reeleito. Aí estão ele e seus sequazes - a sofisticada quadrilha conforme a denominou o próprio Procurador da República - planejando a continuidade do saqueio aos cofres públicos. Não satisfeito com os atos que impingiu à nação Luiz Inãcio quer, agora, fazer seu sucessor (no caso, ao que parece, uma sucessora). Este parece ser seu único propósito de vida, infenso a qualquer coisa que remotamente lembre o conceito de trabalho. Viajar incansavelmente numa deambulação perpétua, pousando aqui e ali em qualquer coisa que lhe sirva de palanque ou que, por mais remotamente que seja, lembre algum. Um tablado (ou mesmo um caixote de querosene) numa cerimônia de inauguração de máquina de cortar salame numa vila perdida nos confins do Brasil; o lançamento de muito cascalho e alguma nata asfáltica em qualquer um dos milhões de buracos a que foram reduzidas as estradas federais; a oferta de repasses financeiros triviais a estados e prefeituras, pois que derivadas de obrigações constitucionais; a instalação de placas anunciando obras que serão iniciadas e terminadas em mandatos posteriores aos seus; as promessas, sempre muitas delas, de casa, comida, roupa lavada e passada (para alguns ainda garante que serão engomadas), tudo isto configura um quadro onde mais vale ajuntar palavras que ajuntar pedras.

Neste período que antecede as próximas eleições municipais o Tribunal Eleitoral parece imitar Pilatos: lava as mãos, e deixa o barco correr, como se nada de grave estivesse acontecendo no país (roubos, mentiras, campanhas antecipadas e outras malfeitorias), sob o comando do Palácio do Planalto. Também os herdeiros de Anás e Caifás, chefes dos vendilhões do templo, continuam a se enriquecer com seus múltiplos negócios, como o faziam naqueles velhos tempos. E insuflam as multidões para votarem nos candidatos de Lula, numa repetição grotesca daquela perversa aliança entre o poder temporal e o poder secular protagonizada pelos Pontífices hebreus e as autoridades romanas. Mas Lula, eventualmente, governa o Brasil "em retidão", para merecer esse apoio por parte de pessoas responsáveis?

Há líderes religiosos (publicamente solenes defensores da Palavra), que se mostram carentes da coragem dos sábios. Esqueceram-se, por acaso, do que diz o profeta: "ao louco nunca mais se chamará nobre, e do fraudulento jamais se dirá que é magnânimo"? (Isaías, 32:5) Sim, pois "o louco fala loucamente, e o seu coração obra o que é iníquo". Apesar de suas delinqüências, o Sr. Lula da Silva (este Barrabás renascido), parece caminhar para um destino exitoso em suas pretensões eleitorais, mesmo que de sua boca brotem mentiras e impiedades próprias de um louco. Os acólitos de Anás e Caifás negligenciam tais fatos, como se isso não tivesse a menor importância. Ainda muito recentemente, comparando polêmicas questões ambientais a um "exame de próstata", o Sr. Lula da Silva ministrou obscena lição à Ministra Marina Silva (recomendou-lhe pornográfico uso do dedo indicador – verdadeira inclusão digital - como forma de liquidar logo o assunto em debate).
Enfim, um costumeiro comportamento debochado e desrespeitador com autoridades e subalternos, segundo relatos do dia a dia palaciano. Essas, e outras pérolas, compõem o perfil presidencial, mostrando como a degradação interior se reflete nos atos e nas palavras. Jovens, principalmente, além de mulheres e idosos não merecem, contudo, testemunhar tantos crimes, grosserias e vulgaridades. Em jantar festivo oferecido a Luiz Inácio (após a campanha de 1998), por doutorandos brasileiros na Alemanha (onde estavam estudantes de biotecnologia, engenharia e teologia), o então candidatos derrotado do PT contou para este público uma piada sórdida de fundo "biotecnológico", como ele mesmo disse à época, após beber grande quantidade de bebida alcóolica: "Um cientista havia desenvolvido uma plantação de bucetas. Devido a seu feito, ele ganhou o prêmio Nobel e foi viajar pelo mundo a mostrar sua obra. Deixou um auxiliar tomando conta das tais plantas. Quando ele retornou, meses depois, encontrou o viveiro onde estavam os pés de bucetas totalmente destruído. Questionou o assistente – um português, evidentemente, que estava num canto segurando uma vareta – sobre a destruição da plantação, o qual respondeu de imediato: Que buceta, que nada, ó pá! Achei aqui um cuzinho transgênico que estou tentando espetar, e que vai fazer um sucesso muito maior que as bucetas!" Esta piadinha escrota não foi contada em um ambiente de estiva nem num botequim de periferia. Os ouvintes brindados com a pérola eram cientistas e teólogos brasileiros numa das mais famosas universidades alemãs. Ela representa, na sua torpeza, a imagem mais acabada do atual presidente.
Mas, apesar de sua biografia, o chefe do executivo brasileiro quer o voto da maioria dos cidadãos para seus amigos e apaniguados, nesta próxima, e em outras eleições que virão futuramente. O mais incrível, todavia, são as bênçãos com que Luiz Inácio é ungido por homens ditos religiosos, bem como por líderes de igrejas, em detrimento do postulado no Livro da Lei. Ora, o chefe dos quadrilheiros que assaltaram a República seria um nobre "que projeta cousas nobres e na sua nobreza perseverará"? Idólatra e "cheio de si", Luiz Inácio vive como alma penada vagando de palanque em palanque. Por que não trabalha em seu gabinete? Por que não estuda as graves questões sobre as quais deve tomar alguma decisão? Por que não lê os complexos documentos que transitariam por sua mesa? A que horas assina a montanha de despachos que fazem parte do cotidiano de um alto dirigente, seja de uma empresa privada ou de um repartição pública? Não, não faz isto. Alguém deve estar assinando por ele. Assinatura eletrônica, por suposto. Foge do trabalho como o diabo foge da cruz. Não trabalha porque não haveria espaço concomitante para ele e seu ego monumental numa sala comum. Nem muito menos para a presença do Eterno. Aí é que entra o papel destinado à Dona Dilma – a proto-mãe do PAC – pau mandada que tem saco para ler montanhas de papel, coisa que o "pai do PAC" não tem, ou não quer ter, e nunca teve (seu assunto é o gogó). E ainda é uma tática genial: se der rolo em alguma coisa, se vier a público alguma trapalhada (o que irá acontecer, pelo tamanho da quadrilha, pelo volume de "negócios", e pelo costume usual da troupe, refratária a qualquer controle externo), Luiz Inácio sempre poderá dizer que não sabia de nada, ou que foi traído, ou que a bicicleta nem é dele etc. e tal, tereré, caixinha de fósforo...

Em artigo recentemente publicado na grande imprensa, o professor Francisco Weffort (fundador e antigo secretário-geral do PT), relatou o que muitos já sabiam sobre as práticas e o caráter de Luiz Inácio. Fazendo mau uso do dinheiro sindical (inclusive de transferências financeiras oriundas de entidades sindicais de outros países), o atual presidente da República demonstra que a roubalheira e, também, a suposta proclamada ignorância sobre o destino dos recursos recebidos ("Eu não sabia", é o que sempre diz), teve sua gênese nas entranhas dos sindicatos. É lá que aprenderam a desviar recursos públicos. E por que são públicos? Simples. São públicos porque oriundos de prescrição legal que obriga todo trabalhador a destinar um dia de seu salário para suas entidades de classe. O trabalhador não pode querer não contribuir. A contribuição é obrigatória: ela é impositiva. Ela é, em suma, um tributo, ou imposto. Passa por cima, até da norma constitucional que garante ser livre a afiliação de quem quer que seja a qualquer tipo de associação. Mas não é livre de não pagar. Quer dizer, pode não ser associado mas tem que financiar a associação ou sindicato. Algo parecido com alguém que é obrigado a pagar a taxa de condomínio de um clube do qual não é freqüentador nem associado. E isto ocorre igualmente com as entidades patronais. Não por acaso os dois mais importantes dirigentes do País são oriundos do peleguismo sindical: Lula, do sindicalismo trabalhista, e José Alencar, do sindicalismo patronal. Ambos conhecedores e bem treinados no uso indevido de recursos de todos para atender seus fins partidários e de grupo. Quando de sua frustrada candidatura ao governo de Minas Gerais – no início dos anos 90 – muitos se lembram da farra com recursos da FIEMG, então dirigida pelo atual vice-presidente, em acintosa promoção pessoal do empresário José Alencar no período pré-eleitoral. A aparente contradição entre patrão e empregado (José Alencar e Lula), encobre uma afinidade profunda pela natureza comum de ambos, ou seja, o gosto pelo uso de recursos alheios para atender seus fins particulares.
No fundo, no fundo, Lula e sua gangue, bem como José Alencar e sua turma, são empresários. Empresários do mesmo tipo de negócio (o negócio sindical), marcado pela curiosa combinação de lero-lero com capital alheio. A obtenção deste capital depende dos favores da vasta cornucópia do dinheiro público, mascarado sob suas múltiplas facetas, quer se apresente sob o nome de "contribuição sindical", "sistema S", FAT, SUDENE, Fundos de Pensão, SUDAM, BNDES ou qualquer outra origem onde o poder público seja decisivo para determinar seu destino.
Há, ainda, um outro aspecto que cobre a apropriação de recursos coletivos sindicais para o uso a favor de um partido político, qualquer partido, frise-se. Partido é, por definição, parte. Uma categoria profissional possui entre seus membros simpatizantes e afiliados a múltiplos partidos. Isto apesar de estarem unidos pela pertinência comum a uma categoria profissional. Por exemplo, há professores com diferentes tendências políticas e ideológicas. No entanto, o sindicato ignora esta multiplicidade e aplica o dinheiro de todos em prol do partido a que pertencem seus eventuais dirigentes. Um caixa dois, na verdadeira acepção da palavra. Isto quando não usa o instrumento de liberação dos dirigentes para ficarem à disposição do sindicato e eles, de fato, vão desempenhar funções partidárias às custas da categoria. Um exemplo famoso, mas não o único, é do professor Delúbio Soares – aquele, aquele mesmo do mensalão – que, liberado de suas atormentadas funções docentes para servir como diretor do sindicato dos professores de Goiás, na realidade exercia mesmo o papel de tesoureiro do PT, em São Paulo. Atualmente, os principais bancos oficiais – Banco do Brasil e CEF – são pródigos fornecedores de quadros dirigentes para o PT (centenas deles estão liberados com ônus para os bancos), sob a capa protetora da anacrônica legislação. Se eles, dirigentes, são tão importantes para a categoria, como se diz, por que os sindicatos não bancam às suas custas esta liberação? O fato, entretanto, é que o principal ponto negociado pela CUT em qualquer transação com os bancos, é a liberação da turma. A "boquinha", em primeiro lugar, mesmo que sacrificando eventuais reivindicações de interesse dos bancários. O que prevalece é o interesse dos "empresários sindicais" na construção de uma rede de "parceiros" onde o Trabalho é um palavrão a ser evitado de qualquer maneira. Claro, a receita do "empreendimento" está garantida pelas contribuições compulsórias e, até mesmo, com pagamentos voluntários de associados (segundo estimativas oficiais, a pelegada sindical terá este ano uma receita de aproximadamente R$1,2 bilhões). Com isto, a teia de sanguessugas se esbalda na manutenção de seus privilégios e no aumento de seu poder e influência, quer política quer financeira, via poderosos fundos de pensão, num verdadeiro capitalismo sem capital próprio (as disponibilidades financeiras dos principais fundos estão na ordem de centenas de bilhões de reais). Para aferir seu poder de fogo basta citar o controle que estes fundos exercem nos conselhos de administração dos principais negócios do país: Vale do Rio Doce, empresas telefônicas, empresas siderúrgicas etc. em sociedade com bancos, empreiteiras, grupos multinacionais etc. Uma eventual sugestão de um desses sindico-capitalistas postados na diretoria de uma grande empresa de telefonia pode, digamos, permitir associações esdrúxulas como a ocorrida entre Lulinha da Silva, filho de Lulão da Silva, e a poderosa TELEMAR. De uma tacada só, alguns milhões desta empresa foram injetados na firma recém constituída por Lulinha da Silva. Ou o rapaz é um incompreendido gênio empreendedor (e os que questionaram o inusitado da operação estão apenas se coçando de inveja), ou o fato se constituiu no mais deslavado capilé repassado a um membro da família real ocupante do palácio do Planalto, como um cala-boca tão natural no mundo dos altos negócios. Evidentemente, os desdobramentos que estão sendo observados quanto a modificações na legislação sobre telefonia (de interesse concreto dos controladores da antiga TELEMAR), podem ser debitados na conta das extraordinárias coincidências). Tudo muito correto! Tudo muito justo e muito perfeito, como diriam os filhos da viúva, que acreditam e vivem na talvez vã, e anacrônica, ilusão de que o homem pode ser aperfeiçoado.

Há um teste singelo para comprovar a natureza empresarial do negócio sindical. Um sindicato existe para, supostamente, defender os interesses de uma categoria profissional. Assim, em princípio, um diretor ou presidente de um sindicato qualquer poderia voltar a exercer seu ofício, ou o emprego que ocupava, após o término eventual de seu mandato. Alguém, no entanto, imagina professores cevados no peleguismo retornando à sala de aula para o afã cotidiano do magistério? Eles não sabem mais nem dar bom dia aos alunos. Do que aprenderam, já se esqueceram de tudo, ou quase tudo. Provavelmente ignoram até o endereço da última escola onde trabalharam. E os dirigentes de sindicatos de bancários? Não saberiam nem ligar o computador, ferramenta básica numa instituição bancária. E metalúrgicos, então? Alguém imagina, nem que seja por exercício de imaginação, um pelego deste tipo numa fábrica moderna? Se o padrão do sindicalismo metalúrgico for Lula da Silva, ele já chegaria atrasado à fábrica e, provavelmente, bêbado. Arrumaria uma desculpa qualquer e fugiria para o banheiro, onde ficaria sentado no vaso a ler a parte esportiva dos jornais. Confira-se as mãos de gente como Stédile (do MST), à procura de algum calo. Mãos sedosas, rosto esticado por botox e cabelos e barbas bem aparados configuram o jeitão típico desta nova classe dominante, a seguir a avaliação de Milovan Djilas. Proíba-se a possibilidade de reeleição dos dirigentes sindicais e a pelegada é capaz de fazer uma revolução armada para resistir a isto. Não que não existam dirigentes – poucos, é verdade – que honram seus mandatos e seus compromissos sindicais. Mas dentre as dezenas de milhares de sindicatos existentes, eles poderão, certamente, ser contados nos dedos de uma mão. Que o Eterno tenha piedade de nós e proteja-nos todos, de Lula e dos seus insensatos apoiadores!

Um comentário:

Anônimo disse...

Que o diga eu e meu pai, bancário ativo e bancário aposentado, respectivamente. Praticamente desde meus quinze anos trabalho em banco(Minas Caixa, Milbanco, Unibanco e Banco do Brasil) e meu pai trabalhou neste tipo de empresa por mais de 35 anos. Neste período vimos um sindicato rico ser totalmente dilapidado pela CUT. Tínhamos um colégio e um clube em Santa Tereza; um ótimo restaurante no centro de BH, com comida de boa qualidade e preço justo; tratamento médico e odontológico de qualidade; apoio jurídico forte contra demissões e assédio moral e, claro, o mais importante: a defesa da classe feita de forma honrada e honesta, com ideais de crescimento e desenvolvimento para todos. Hoje, não temos mais nada, em BH apenas uma sombra do que foi o Sindicato dos Bancários. Uma instituição que serve para acomodar "insatisfeitos" com suas empresas, para não dizer preguiçosos. Pessoas que usam o sindicato como trampolim para carreiras políticas (vide o atual presidente do Sindicato, aluno da UFMG por sinal). O pior é que o poder não troca de mãos, as eleições são feitas de forma obscuras e há muita gritaria mas pouca ação efetiva. Pudera, com um butim enorme em mãos, quem vai querer largar o osso? Osso, foi isso em que se transformou o Sindicato dos Bancários de BH e Região, que não tem nem opinião própria a respeito de nada, seguindo os grandes centros nas maiores decisões em benefício da classe.
Rodrigo Teixeira Neves