"Os jornalistas, às
vezes, chamam a atenção para os nomes estranhos que surgem nos escândalos
políticos. Surgiu agora o de Valdirene Aparecida, que, apesar de inadimplente,
teria recebido um empréstimo do Banco do Brasil, com dinheiro do BNDES. Os
nomes parecem estranhos no noticiário, porque são nomes de batismo, de modo
geral, como é comum na Bahia, uma fusão dos nomes do pai e da mãe.
Valdirene, por
exemplo, muito provavelmente, é filha de Valdir com Irene. Tornou-se Val
Marchiori, participou de um reality show, “Mulheres ricas”, e é apresentada
como socialite. Vi alguns fragmentos do reality show. Valdirene não parecia
apenas uma mulher rica, mas alguém fugindo intensamente dos hábitos da
população mais humilde, marcados inclusive no seu nome composto: Valdirene, de
Valdir e Irene, e Aparecida, talvez em homenagem à padroeira do Brasil.
Suas matérias de
viagem eram custeadas por ela, que viaja em jatinho próprio. Val ofuscou
Valdirene e conseguiu um espaço como apresentadora, repórter, blogueira e
celebridade. Além disso, tinha grana para produzir as próprias matérias. Dizem
os jornais que Valdirene e Aldemir eram amigos, viajavam juntos, e, juntos,
decidiram pelo empréstimo no BB, onde Aldemir era presidente.
Ele é um dos
executivos ligados ao PT. Chegou ao máximo da carreira ao ser indicado para a
presidência de uma Petrobras em transe. E teve esse caso na vida, uma loira
como cliente bancária.
A senadora Marta
Suplicy já registrou o problema da cor do cabelo no PT, ao afirmar que havia
três candidatas mulheres à presidência, Dilma, Marina e ela. Mas observou que
não tinha nenhuma chance, pois era a única loira.
No auge da crise
internacional, Lula acusou os loiros de olhos azuis de terem arruinado a
economia mundial. Se falou isso é porque, em alguma camada de seu inconsciente,
acredita na maldade intrínseca dessa gente branca.
Valdirene também é
loira. Sua trajetória de fuga da pobreza e a adoção entusiástica de um consumo
de luxo aparentemente são sinais de afastamento da galáxia petista. No entanto,
no fundo, têm tanto ela como o PT o mesmo deslumbramento com a riqueza. A
passagem de Lula pelo Copacabana Palace, no período eleitoral, mostra que ele
tem os mesmos e talvez mais caros hábitos que a própria socialite.
A sensação que tenho
é de que Lula gostaria de ter a mesma trajetória de Val Marchiori. Sua fúria
contra os ricos e os loiros de olhos azuis esconde um grande desejo de
imitá-los.
No Brasil, há quem
ganhe Bolsa Família, há quem ganhe bolsa Louis Vuitton do BNDES. A diferença,
como tenho acentuado, é o sigilo do BNDES.
Sinceramente, espero
que ela não se ofenda, mas a bolsa de Val Marchiori é uma mixaria perto do que
os outros ricos empresários estão levando. E revela algo característico da
burguesia brasileira, sobretudo aquela que o PT considera a elite do B porque o
apoia, incondicionalmente. Eles esbanjam dinheiro.
Val tem dinheiro para
viajar no próprio jatinho e financiar suas aventuras jornalísticas. Mas, quando
precisa de uma graninha extra, vai ao Banco do Brasil, que, por sua vez, aciona
o crédito do BNDES. Os donos da Friboi buscam dinheiro no BNDES e, ao mesmo
tempo, destinam R$ 250 milhões à campanha do PT.
A trajetória de
Aldemir e Valdirene passaria em branco para mim. Não me importo com a vida dos
outros nem me disponho a patrulhar gastos alheios quando não se originam em
dinheiro público.
No entanto, há uma
trajetória comum dos ricos que orbitam em torno dos governos petistas e
bolivarianos. Prosperam num discurso de amor à pobreza, mas, no fundo, querem
apenas mais dinheiro.
Valdirene é uma
exceção. Nunca a vi elogiar a pobreza, nos poucos minutos em que a ouvi, jamais
manifestou amor pelos pobres, algo que é muito comum nos nossos salvadores
populistas.
Ao contrário, encarna
apenas um espírito elitista, que quer se diferenciar através do consumo de luxo
e escolhas sofisticadas.
O PT ama os pobres,
tão falsamente como é possível amar os pobres, a Humanidade e outras grandes
abstrações.
Mas Valdirene e Lula
navegam no mesmo transatlântico de luxo que está se afundando e não nos deixam
outra saída, exceto seguir tocando nosso piano, humildemente, enquanto a farsa
não se revela em toda a sua amplitude.
O ideal seria tocar a
sirene enquanto o drama se precipita sem as máscaras do carnaval. Mas isso é
uma tarefa para se pensar na Quarta-feira de Cinzas.
As últimas pesquisas
sobre Dilma confirmam minhas intuições de repórter de rua. A confiança está
desabando, e o edifício pode cair. Só nos resta repetir em escala nacional o
conselho do prefeito do Rio aos moradores de área de risco: acreditem na sirene
quando ela tocar".
(Fernando Gabeira)
* Aviso aos navegantes: O galã acima, ao lado da Val, é o felizardo presidente da Petrobrás e antigo presidente do Banco do Brasil.
(Fernando Gabeira)
* Aviso aos navegantes: O galã acima, ao lado da Val, é o felizardo presidente da Petrobrás e antigo presidente do Banco do Brasil.
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