segunda-feira, 23 de março de 2009

PRETENSÕES ALOPRADAS

Tangidos por uma procuração que nunca receberam do povo brasileiro, bandos de aloprados se propuseram fazer uma revolução política no país. Inspirados por uma mescla de doutrinas salvacionistas (algumas de cunho religioso, outras de formato secular), lançaram mão de armas contra a estrutura governamental vigente em prol de uma nova ordem, nos idos dos anos 60 do século passado. Como recomendava alhures o atual ministro Tarso Genro, os pretensos revolucionários deveriam apropriar-se da teoria de “Rosa, Lênin, Gramsci, Lukács e Bloch” (isto sem falar das contribuições do cristianismo quiliástico, com sólidas raízes fincadas entre nós no secular jesuitismo militante), para implantar a ditadura do proletariado. E sob o comando direto do sujeito histórico adequado para tal: claro, o "partido". Previsivelmente encontraram a normal e costumeira resistência a seus intentos. Ou homens portando fuzis imaginariam uma recepção na base de pão-de-ló por parte dos defensores da ordem por eles combatida? A longa história humana mostra os riscos de todos os tipos que correm os autores de empreendimentos revolucionários. Havendo insucesso, alguns são crucificados, outros empalados, ou exilados, ou mutilados, ou desapropriados, ou degolados, ou enforcados, ou reeducados, ou asfixiados, ou cremados e mais uma inumerável seqüência dos tantos verbos afins disponíveis nos dicionários. A bem da verdade, é bom que se diga que as forças da ordem que resistiram aos pretensos revolucionários brasileiros também correram riscos equivalentes. Paredón, arquipélagos Gulags, campos de reeducação, guilhotinas, forcas e outras formas de repressão fazem, e fizeram, parte do cardápio de eventuais vitoriosos revolucionários (da turma dos aloprados), em outros tempos e lugares contra seus desafetos.

Em vista disto, a anistia obtida com o fim consensual do regime autoritário brasileiro vem sendo questionada, portanto, de maneira equivocada. Aos adeptos de doutrinas totalitárias falece o direito de retrucar a repressão sofrida. Caso eles tivessem vencido, em vista dos precedentes conhecidos, seus adversários teriam sido esfolados. Reivindicar, porém, a apuração das denúncias de torturas seria altamente desejável, inclusive aquelas sofridas por inocentes em operações de seqüestro. Como também o seria a apuração das mortes em ações ditas “revolucionárias” (com a devida indenização pelos danos causados), bem como a devolução, a seus legítimos donos, do dinheiro dos assaltos a cofres, bancos, padarias e similares. Os pacíficos e os pacifistas que sofreram vexames, medo e o clima opressivo nas escolas, nos empregos, nos clubes e nas ruas, estes as verdadeiras vítimas dos anos de chumbo continuam, no entanto, a pagar – e caro – as conseqüências das aventuras de alguns aloprados. Aloprados que não se cansam de reivindicar dinheiro público como indenização pelos seus próprios atos, dos quais eles são os únicos responsáveis.

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